Para preservar o Cerrado, Jardim Botânico de Brasília remove pinheiros da Estação Ecológica

A equipe técnica do Jardim Botânico de Brasília removeu mais de 100 pinheiros e Eucaliptus presentes em uma área de 2,3 hectares da Estação Ecológica (EEJBB). A ação está prevista no Plano de Manejo da unidade e tem o objetivo de retirar essas espécies exóticas invasoras para controlar a disseminação e cumprir a principal missão do JBB, que é a proteção e manutenção do Cerrado.

O plantio ocorreu há mais de 50 anos como um experimento do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mas estudos científicos comprovaram os impactos negativos causados por esse plantio, capaz de promover mudança estrutural e funcional da flora nativa.

De acordo com Priscila Rosa, diretora de vegetação e Flora do JBB, é preciso acompanhar o crescimento e propagação dos pinheiros e Eucaliptus, pois quando essas espécies encontram condições de se reproduzir acabam se tornando dominantes. “Ainda na época do experimento, foram inseridas de 6 a 8 espécies diferentes na área da Estação Ecológica e duas se adaptaram melhor: Pinus elliotti e Pinus oocarpa. São essas que temos que controlar para garantir a conservação e restauração de formações de Cerrado”, explicou.

 

Pesquisa científica

Um projeto importante realizado em 2017 em parceria com pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Universidade de Brasília retirou pinheiros de outra área dentro da Estação Ecológica e o resultado foi surpreendente. “Retiramos pinheiros e o Cerrado se regenerou rapidamente graças ao plantio de sementes de espécies nativas. Os mutirões para retirada desses indivíduos serão feitos periodicamente para o cumprimento do nosso Plano de Manejo”, reforçou Priscila.

A iniciativa possibilitou o desenvolvimento de técnicas aplicadas ao manejo para melhorar a gestão e a conservação no interior de uma das áreas mais bem conservadas do DF. Foi, ainda, uma oportunidade de realizar pesquisas de alto nível para produção científica e formação de profissionais, incluindo alunos de graduação e pós-graduação da UnB.

Nas imagens abaixo é possível ver a velocidade com que os pinheiros se espalharam pela área de preservação. A primeira é de 2002, a segunda de 2017, antes da operação de retirada, e a última em 2019, com a vegetação recuperada.

A invasão biológica é considerada uma das maiores ameaças à biodiversidade. Isso acontece quando espécies são transportadas intencionalmente ou por acidente, para fora de sua região de ocorrência nativa, e encontram condições de se reproduzir. No caso dos Pinus do JBB, por exemplo, a competição é cruel com o Cerrado, pois eles se tornam indivíduos adultos em 3 anos e já são capazes de espalhar sementes. “Algumas espécies do nosso bioma levam até 20 anos para se estabelecerem e se desenvolverem. Um competidor mais forte acaba tomando o espaço”, destacou Priscila.

Combate aos incêndios

Além dos problemas relacionados à dominação da área, a presença dessas espécies pode contribuir para a propagação de incêndios florestais. O gerente de preservação do JBB, Pedro Cardoso, explicou que os Pinus são altamente inflamáveis. “Essa região específica é muito importante no combate às chamas, pois tem muitas rochas e não deixa o fogo subir para a área de visitação do Jardim Botânico. A vegetação nativa daqui é bem rala e, naturalmente, dificulta a propagação dos incêndios”.