Especialistas discutem manejo controlado do fogo no Cerrado

O Jardim Botânico de Brasília sediou nesta semana o workshop que reuniu técnicos e representantes de universidades envolvidos nos estudos e experiências de Manejo Integrado do Fogo (MIF). A iniciativa faz parte da campanha de prevenção aos incêndios florestais no Cerrado e contou com a presença do secretário do Meio Ambiente, Sarney Filho, e da diretora-executiva do JBB, Aline De Pieri.

O MIF é um conjunto de técnicas que procuram diminuir o grau de destruição dos incêndios florestais. A proposta é realizar queimas controladas por meio de abordagens que consideram aspectos ecológicos, culturais e de manejo com vistas a garantir a conservação e uso sustentável de ecossistemas.

Para Aline De Pieri, o encontro foi fundamental para conhecer as experiências de outras unidades de conservação que já adotam a prática para diminuir o volume de material combustível acumulado no solo e, assim, reduzir a intensidade dos incêndios florestais.

Sarney Filho adiantou que o uso controlado do fogo é hoje empregado em vários países, como Austrália, África e Estados Unidos, para evitar incêndios nos períodos secos que devastam as savanas.

“O trabalho se faz a partir da redução de material combustível de uma área, evitando incêndios que ameaçam os ecossistemas e contribuindo ainda para a redução de emissões de gases de efeito estufa”, explicou o secretário.

No Distrito Federal, o Parque Nacional de Brasília tem realizado diversas ações de manejo, incluindo as queimas, que são prescritas durante o período chuvoso e início da estação seca, segundo explicou Juliana de Barros Alves, chefe do Parque Nacional de Brasília.

Desde o início da prática, de acordo com o gerente de Fogo do Parque Nacional de Brasília, Manoel Eurípedes da Silva, os índices de incêndios diminuíram no parque. “Se deixarmos o capim crescer durante vários anos, ele se transforma em combustível certo para alastrar o fogo. Com o manejo, evitamos danos maiores à área protegida”, disse, ao apresentar os dados dos últimos anos.

 

Conhecimento tradicional

Os especialistas informaram que, desde 2014, o governo federal e alguns governos estaduais, com base em dados ecológicos nacionais e internacionais, passaram a adotar as ações de manejo, ressaltando a simplicidade, técnica, baixo custo e valorização do conhecimento tradicional das comunidades.

A professora da Universidade de Brasília, Isabel Schmidt, afirmou que evitar fogo em savanas, que são semelhantes ao Cerrado, “é algo impossível”, e que por isso, “é melhor fazer fogo bom para evitar incêndios que ficam fora de controle”.

Isabel Schmidt visitou áreas na Flórida, (EUA) onde se faz o manejo pelo fogo nos Everglades, e também o Parque Kruger, na África do Sul. No Kruger, uma extensa área de savana, a prática é utilizada desde 1954.

“O trabalho é sempre feito antes das chuvas, que no DF têm o seu auge nos meses de agosto, setembro e outubro. O planejamento envolve imagens de satélites, que mostram onde foi feito o manejo nos anos anteriores, e assim são escolhidas novos pontos para a ação”, informou.

A especialista defendeu que o fogo controlado evita que um incêndio chegue até as matas de galerias, ameaçando mananciais e nascentes.

Foi citada a experiência do Parque Nacional da Chapada das Mesas, no Maranhão, onde não foram registrados grandes incêndios nos últimos anos, desde a prática do manejo do fogo.

De acordo com os especialistas, o Código Florestal de 2012 permite o manejo do fogo em áreas protegidas. Hoje, tramita no Congresso Nacional projeto de lei que estabelece uma política nacional sobre queimadas controladas.

Com informações da SEMA.