Flora Cerrado
Atualizada em 11 de Novembro de 2024
A área do Jardim Botânico de Brasília (JBB) e da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília (EEJBB) é representada por quase todas as fitofisionomias do Cerrado. De acordo com Ribeiro e Walter (2008), há três tipos de formações: florestais, savânicas e campestres. No JBB e EEJBB, as formações florestais encontradas são: Mata de Galeria e Cerradão; as savânicas são: Vereda e Cerrado sentido restrito; e as campestres: Campo sujo, Campo limpo, Campo rupestre e Campo com murundu.
Formações florestais
Mata de Galeria
É uma vegetação florestal que acompanha os rios de pequeno porte e córregos dos planaltos do Brasil Central formando corredores fechados sobre o curso de água. Suas árvores podem medir entre 20 e 30 metros, fornecendo uma cobertura arbórea de 70 a 95%. É comum haver espécies epífitas (plantas que utilizam as árvores como suporte para crescimento). Os solos são geralmente cambissolos, plintossolos, argissolos, gleissolos ou neossolos.
De acordo com características ambientais como a topografia e variações na altura do lençol freático ao longo do ano a Mata de galeria pode ser separada em dois subtipos: Mata de Galeria não-Inundável e Mata de Galeria Inundável. Na área do JBB e EEJBB, ocorrem três Matas de Galeria, as quais acompanham os córregos Cabeça-de-veado, o Taquara e o Tapera, totalizando 190 hectares. Algumas espécies encontradas comuns a Mata de Galeria são: Copaifera langsdorfii (copaíba), Euterpe edulis (jussara), Schefflera morototoni (morototó), Styrax camporum (cuia-do-brejo), Symplocos nitens (congonha).
Cerradão
Possui características esclerófilas (grande ocorrência de órgãos vegetais rijos, principalmente folhas) e xeromórficas (características como folhas reduzidas, suculência, pilosidade densa ou com cutícula grossa que permitem conservar água e, portanto, suportar condições de seca).
Caracteriza-se pela presença de espécies que ocorrem no Cerrado sentido restrito e por espécies de florestas, particularmente as da Mata Seca Semidecídua e da Mata de Galeria Não-Inundável.
A altura média das árvores varia de oito a 15 metros, proporcionando condições de luminosidade que favorecem a formação de camadas arbustivas e herbáceas diferenciadas. Os solos do Cerradão são profundos, bem drenados, de média e baixa fertilidade, ligeiramente ácidos, pertencentes às classes latossolo vermelho ou latossolo vermelho-amarelo.
De acordo com a fertilidade do solo o Cerradão pode ser classificado como Cerradão Distrófico (solos pobres) ou Cerradão Mesotrófico (solos mais ricos, ainda que de fertilidade mediana), cada qual possuindo espécies características adaptadas a esses ambientes.
Espécies arbóreas mais frequentes no Cerradão Distrófico são: Caryocar brasiliense (pequi), Copaifera langsdorffii (copaíba), Emmotum nitens (sobre), Hirtella glandulosa (oiti), Lafoensia pacari (pacari). No Cerradão Mesotrófico são: Callisthene fasciculata (jacaré-da-folha-grande), Dilodendron bippinatum (maria-pobre), Guazuma ulmifolia (mutamba).
O Cerradão ocorre em apenas um fragmento da Estação Ecológica totalizando uma área de 26 hectares.
Formações Savânicas
Cerrado sentido restrito
Essa fisionomia é a mais abrangente da área, ocorrendo em 3.136 hectares. Caracteriza-se pela presença de árvores baixas, arbustos e ervas. As árvores são distribuídas aleatoriamente sobre o terreno em diferentes densidades, com ramificações irregulares retorcidas e sem que se forme uma cobertura contínua. Os troncos possuem casca com cortiça espessa, fendida ou sulcada, folhas rígidas e coriáceas, características que sugerem adaptação a condições da seca.
Ocorre, em grande parte, em solos das classes latossolo vermelho e vermelho-amarelo, moderadamente ácidos e com carência generalizada de nutrientes e altas taxas de alumínio. Pode ocorrer também em cambissolos, neossolos quartzênicos, neossolos litólicos, plintossolos ou gleissolos.
Devido a fatores como as condições edáficas, pH, saturação de alumínio, condições hídricas e profundidade do solo, o Cerrado sentido restrito subdivide-se em Cerrado Denso, Cerrado Típico, Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre. A diferença entre as três primeiras subdivisões é a forma dos agrupamentos e espaçamento entre os indivíduos lenhosos. O Cerrado Rupestre diferencia-se dos demais pelo substrato com afloramentos rochosos.
Na área do JBB e EEJBB ocorrem todos os tipos de Cerrado sentido restrito. As espécies frequentes desses ambientes são: Hancornia speciosa (mangaba), Ouratea hexasperma (vassoura-de-bruxa), Qualea grandiflora (pau-terra-grande), Q. parviflora (pau-terra-roxo), Tabebuia aurea (caraiba, ipê-amarelo), Hymenaea stigonocarpa (jatobá-do-cerrado), entre outras.
Cerrado Denso
É o subtipo mais denso e alto de Cerrado sentido restrito, com cobertura arbórea de 50% a 70% e altura média de 5 a 7 metros .
Cerrado Típico
É uma forma comum e intermediária entre o Cerrado Denso e o Cerrado Ralo, com cobertura arbórea de 20% a 50% e altura média de 3 a 6 metros.
Cerrado Ralo
É a forma mais baixa e menos densa entre os subtipos citados, com cobertura arbórea de 5% a 20% e altura média de 2 a 3 metros, com o estrato herbáceo-arbustivo bem destacado.
Cerrado Rupestre
A vegetação do Cerrado Rupestre ocorre em ambientes com afloramentos rochosos, com cobertura arbórea de 5% a 20%, altura média de 2 a 4 metros e estrato herbáceo-arbustivo bem destacado. Algumas espécies arbustivas são bem características dessa fitofisionomia como: Lychnophora ericoides (arnica), Wunderlichia mirabilis (flor-de-pau), Chamaecrista orbiculata (moeda), Stenodon sp. Esta fisionomia abrange aproximadamente 12 hectares na Estação Ecológica.
Vereda
A Vereda se caracteriza pela presença de uma única espécie de palmeira, o buriti (Mauritia flexuosa), que não forma dossel e pode adquirir altura média de 12 a 15 metros com cobertura de 5 a 10%. A Vereda é circundada por uma camada característica de arbustos e ervas. Quanto à florística as famílias encontradas com muita frequência nas suas áreas campestres são Poaceae e Fabaceae (Desmodium e Stylosanthes) e gêneros como Hyptis, Ludwigia, Mimosa e Xyris. Ocorre adjacente à Mata de Galeria do córrego Taquara e do Cabeça-de-veado e no córrego Taperinha, localizados na Estação Ecológica. Essa fisionomia soma 60 hectares.
Formações Campestres
Campo Sujo
O Campo Sujo é caracterizado pela presença exclusiva de arbustos e subarbustos esparsos em áreas com solos rasos, como os neossolos litólicos, cambissolos ou plintossolos pétricos, ou em solos profundos e de baixa fertilidade, como os latossolos e os neossolos quartzênicos. Os táxons mais encontrados são: Poaceae (Aristida, Axonopus, Tristachya), Asteraceae (Aspilia, Baccharis, Chromolaena, Vernonia), Cyperaceae (Bulbostylis, Rhynchospora).
O Campo sujo ocupa área de 76 hectares na área do Jardim Botânico e da Estação Ecológica.
Campo Limpo
A presença de espécies herbáceas no Campo Limpo é predominante com raros arbustos e subarbustos e ausência de árvores. Pode ser encontrado nas encostas, chapadas, circundando as Veredas e nas bordas da Mata de Galeria ou em áreas planas.
Podem ser encontradas espécies dos seguintes grupos: Burmanniaceae (Burmannia), Poaceae (Axonopus, Mesosetum, Panicum), Orchidaceae (Cleistes, Habenaria), entre outras. O Campo Limpo é a segunda fitofisionomia predominante no JBB e EEJBB, totalizando 521 hectares.
Campo Rupestre
O Campo Rupestre é predominantemente herbáceo-arbustivo com substrato composto por afloramentos de rocha ou neossolos litólicos. Devido às condições edáficas e restritivas, a flora do Campo rupestre é típica com muitos endemismos (presença de espécies com ocorrência restrita a este ambiente) e plantas raras. Os táxons mais frequentes são: Asteraceae (Bacharis, Calea, Lychnophora), Bromeliaceae (Dyckia, Tillandsia), Rubiaceae (Chiococca, Declieuxia), Vellozia spp. O Campo Rupestre está presente em duas áreas da Estação Ecológica abrangendo 21 hectares.