História
Atualizada em 11 de Novembro de 2024
O “Plano Piloto para a Nova Capital” de Lucio Costa trouxe o registro da primeira proposta de localização para o Jardim Botânico e o Jardim Zoológico de Brasília. Como suporte à implantação do Parque Zoobotânico, em 1961, foi criada a Fundação Zoobotânica do Distrito Federal (FZDF).
O projeto ficou estagnado de 1961 até 1967, quando a Terracap iniciou os serviços de terraplanagem da “Estrada do Roteiro”, conforme o anteprojeto da Burle Marx Arquitetos Paisagistas, visando à implantação do Parque Zoobotânico.
Em 1969, foi elaborado o Plano Diretor do Parque Zoobotânico. Este documento orientou a implantação daquele que se tornou o Jardim Zoológico de Brasília, importante ponto turístico da Capital.
Comissão
Em 1976, formou-se uma Comissão para estudar e propor a criação do Jardim Botânico de Brasília (JBB). O relatório da comissão foi entregue em 18 de maio de 1977, com a conclusão de que, ao contrário do Projeto de Lucio Costa, o melhor local para abrigar o Jardim Botânico de Brasília seria a Estação Florestal Cabeça de Veado (EFCV), administrada pela FZDF, situada no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, em terras pertencentes à Terracap, com área de 526 hectares.
Segundo a comissão, a área apresentava vegetação característica, com várias fitofisionomias do Cerrado, abrigava infraestrutura necessária para dar o suporte ao núcleo inicial – como luz, telefone – e ainda registrava elementos fundamentais para a implantação de um Jardim Botânico, como a abundância de água, pela presença do Córrego Cabeça de Veado, a topografia ideal e distância razoável do centro de Brasília.
No local funcionava uma Estação de Experimentação Florestal, com Pinus e Eucalyptus, onde atuavam pesquisadores do IBDF e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Havia, ainda, um viveiro de produção de mudas. A Comissão enfatizou a importância de se preservar ao máximo a vegetação típica da área, bem como a necessidade do plantio de espécies representativas do Cerrado existentes em outros Estados brasileiros.
Ponto de partida
Segundo relatos da época, Brasília abrigava um dos um melhores jardins zoológicos do país e tanto a população como a imprensa clamavam por um Jardim Botânico. A obra era uma das últimas previstas no Plano Piloto de Lucio Costa e ainda não havia sido implantada.
A chegada de uma bióloga no quadro funcional da Fundação Zoobotânica do Distrito Federal, Cilúlia Maria Rodrigues de Freitas Maury era o que faltava para dar partida à empreitada. Com a assessoria do corpo técnico do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a presença do ecólogo Pedro Carlos de Orleans e Bragança, as condições para a criação do “Jardim Botânico do Cerrado” estavam estabelecidas. O Jardim Botânico de Brasília foi o primeiro Jardim Botânico do mundo com objetivos claros de conservação in situ de recursos genéticos.
Com a finalidade de examinar os trabalhos já realizados e propor as medidas necessárias para a definitiva implantação do JBB, uma nova comissão foi instituída e ratificou o relatório anterior, confirmando a área da EFCV como a sede do futuro JBB.
Em 1984, o ecólogo Pedro Carlos de Orleans e Bragança foi nomeado chefe do Jardim Botânico de Brasília e assumiu a coordenação dos trabalhos para sua implantação.
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro apresentou o relatório “Potencial de Uso Público e Estudos Arquitetônicos do Jardim Botânico de Brasília”. Nele está contido o projeto arquitetônico, o programa de uso público e o projeto paisagístico elaborado por sua equipe.
Um ponto comum desde o relatório da Comissão de 1976 é que o JBB deveria ser a melhor referência de Jardim Botânico do Cerrado. Por estar localizada na área do Bioma, Brasília deveria ser um ponto de destaque, procurando estudar, divulgar e proteger o Cerrado, com a missão de educar o público para sua valorização e proteção.
Vanguarda
As premissas para a orientação do projeto do JBB foram de vanguarda. A história dos jardins botânicos no mundo mostra que até então, eram instituições que procuravam, principalmente, aclimatar as plantas de outros lugares, promovendo a conservação ex situ de recursos genéticos vegetais. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por exemplo, iniciou suas atividades aclimatando espécies do Velho Mundo necessárias para alimentação, tratamento de doenças, conservação de alimentos, fornecimento de fibras para tecelagem, entre outras. Afinal, a terra era nova e os recursos naturais ainda eram desconhecidos na época.
E assim, o JBB foi o primeiro jardim botânico no mundo a manter coleções de plantas in situ, ou seja, no seu ambiente, permitindo a manutenção de sistemas e processos naturais como a melhor forma de conservação de recursos genéticos.
Anos depois, em 1989, o Botanical Garden Conservation International (criado em 1987), lançou o livreto “Estratégia de Conservação para os Jardins Botânicos”, cuja tradução foi lançada no Brasil em 1990. Neste trabalho, esse órgão mundial define uma carta de propósitos para os jardins botânicos, enfatizando que devem buscar espaços para a conservação in situ.
Arquitetura ecológica
A concepção arquitetônica e paisagística do JBB buscou compatibilizar a preservação dos recursos naturais e dos aspectos cênicos às necessidades concretas de instalação de espaços de trabalho e de lazer para funcionários e público visitante. O planejamento, norteado pelos princípios da arquitetura ecológica, favoreceria o uso racional do ambiente com o mínimo de impacto, aproveitando e maximizando os elementos naturais e condições ambientais de forma que as edificações propostas não fragmentassem a lógica e o ordenamento natural dos aspectos paisagísticos.
A análise da fotografia aérea de 5 de agosto de 1982, assim como dos relatórios de vegetação, flora e solos subsidiou o planejamento da área de uso público. Buscou-se também o máximo aproveitamento da estrutura já existente na Estação Florestal Cabeça de Veado, tais como o viveiro de produção de mudas, escritórios, herbário, área de experimentos florestais e acessos já existentes, de forma a concretizar sua implantação efetiva a curto prazo e baixo custo, com o máximo de qualidade técnica.
Projetou-se a construção de um Mirante no ponto culminante do JBB, de onde é possível avistar sua área – que mais tarde se tornou a Estação Ecológica do JBB.
Inauguração
O JBB foi inaugurado no dia 8 de março de 1985. O evento solene contou com a participação de autoridades como o governador do DF na época, José Ornellas de Souza Filho, o príncipe herdeiro da coroa brasileira, D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, sua esposa, a princesa Maria de La Esperanza de Bourbon e Orleans, e sua filha, a princesa D. Cristina de Orleans e Bragança, além do diretor do JBB, Pedro Carlos de Orleans e Bragança, sua esposa, Patrícia de Orleans e Bragança e o diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Ribeiro De Xavier. O evento registrou ainda a participação da ilustre botânica brasileira, pesquisadora do JBRJ, Graziela Maciel Barroso.
Como parte da solenidade, houve o lançamento de selo e envelope comemorativos pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, ocorrido no Palácio do Buriti. O selo apresentava uma obra específica de autoria do artista plástico Álvaro Martins: um ramo florido de pequizeiro, a árvore-símbolo do JBB.